Participação em organizações agrícolas traz benefícios econômicos, sociais e políticos para os agricultores

Material produzido pela Rádio Rural Internacional em 1° de dezembro de 2011, como parte do pacote de informações n° 94.

Original em inglês disponível em: http://scripts.farmradio.fm/radio-resource-packs/package-94-african-farm-radio-research-initiative-afrri/membership-in-farmers-organizations-brings-farmers-economic-social-and-political-benefits/.


Observações para as emissoras:

“Uma andorinha só não faz verão”, diz o provérbio. Em outras palavras, “unidos venceremos”. Inspirados por este provérbio, pequenos agricultores de Burkina Faso organizaram-se para aumentar sua produção agrícola e melhorar as suas vidas há mais de três décadas.  Hoje você dificilmente vai encontrar uma aldeia sem um grupo de produtores, homens ou mulheres. Ao longo do tempo, os agricultores compreenderam que somente um grupo permite que eles sejam fortes e falem com alguma credibilidade para os seus parceiros de desenvolvimento, sejam eles técnicos ou financeiros. Por isso, eles decidiram organizar-se em grupos agrícolas por setor de produção ou commodities, tais como produtores de arroz, produtores de algodão etc. Existem atualmente parcerias, cooperativas, federações e confederações no panorama rural de Burkina Faso.

Os seus objetivos são nobres: contribuir com o bem estar dos seus membros, ajudar a aumentar a produção agrícola, conseguir bons preços para produtos agrícolas, facilitar o acesso dos membros ao microcrédito e aprimorar as técnicas agrícolas.

Boudry é a cidade principal de um departamento da província de Ganzourgou. Ela fica a cerca de cem quilômetros de Ouagadougou, a capital, e inclui 72 aldeias. Nesse departamento, em 2005, diversos grupos se uniram para criar a União Departamental dos Produtores Agrícolas de Boudry, ou UDPA-B. Os membros desse grupo são pequenos agricultores. Eles cultivam cereais, arroz e algodão. Além disso, dentro do seu grupo, eles estão ganhando o conhecimento e técnicas que lhes permitirão não apenas melhorar suas vidas, mas também assumir responsabilidades que eles não acreditavam que pudessem administrar.

Este roteiro mostra como a participação em um grupo ou cooperativa pode permitir que as mulheres ganhem confiança renovada e também demonstra como o envolvimento na administração democrática de uma cooperativa pode ser campo de treinamento para participação em outros níveis de governo.

Este roteiro é baseado em entrevistas reais. Você poderá utilizá-lo como inspiração para pesquisar e escrever um roteiro sobre um tema similar na sua região. Ou você poderá decidir produzir este roteiro na sua emissora, usando radioatores para representar as pessoas. Se o fizer, não se esqueça de dizer aos seus ouvintes no início do programa que as vozes são de atores e não das pessoas originalmente envolvidas nas entrevistas.


Roteiro:

Apresentador: Pequenos agricultores de Burkina Faso organizaram-se para aumentar a sua produção agrícola e melhorar as suas vidas há mais de três décadas. “Uma andorinha só não faz verão”, diz o provérbio. Atualmente, parcerias, federações e confederações são cada vez mais comuns nas áreas rurais do país.

A União Departamental dos Produtores Agrícolas de Boudry, ou UDPA-B, é uma dessas organizações de agricultores. Nosso repórter Adama Zongo entrevistou dois membros da UDPA-B.

Prosper é membro do grupo de produtores agrícolas de Yaïka, uma aldeia localizada no departamento de Boudry, na região central de Burkina Faso. Ele não aparenta seus quarenta anos de idade e seu rosto expressa uma certa autoconfiança. Ele é casado e pai de duas meninas e três meninos. O seu grupo uniu-se à UDPA-B há cinco anos.

Prosper: Sabemos agora que o provérbio popular que diz: “unidos venceremos” realmente tem razão de ser. Antes de entrarmos para a UDPA-B, o nosso grupo não conseguia beneficiar-se do apoio recebido por outros grupos daquela organização. Os membros daqueles grupos recebiam sementes, fertilizantes e pequenos empréstimos para apoiar as suas atividades agrícolas. Nós não podíamos permanecer indiferentes frente àquela situação. Então decidimos associar-nos à UDPA-B para termos os benefícios e vantagens que ela oferece ao seus membros.

Apresentador: Atualmente a UDPA-B reúne 70 grupos, vinte dos quais são grupos de mulheres. A organização representa cerca de dois mil produtores, homens e mulheres. As pessoas que encontramos em duas aldeias de Boudry parecem satisfeitas com as ações desempenhadas pela UDPA-B em benefício delas. Elisabeth é uma jovem do grupo de Boéna, membro fundador da UDPA-B. Eis o que ela tem a dizer.

Elisabeth: (em voz agitada e ansiosa) É graças à UDPA-B e ao meu grupo que estou concedendo esta entrevista. Você sabe que é difícil para uma mulher falar para o público. E ainda é pior falar para o microfone! Mas o grupo e a UDPA-B me transformaram e hoje tenho confiança quando falo. Não tenho mais medo.

Apresentador: Elisabeth não vê a hora de compartilhar conosco sua experiência na UDPA-B.

Elisabeth: (agitada e ansiosa) Não tenho palavras para contar tudo de bom que o grupo fez para nós pela UDPA-B. Por exemplo, todo ano eu compro material escolar para minha filha. Ela vai para a escola há três anos. Eu espero que ela consiga estudar por um longo tempo, para conseguirmos alguma posição de prestígio em Ouagadougou, a capital de Burkina Faso. Eu também colaboro comprando medicações quando meus filhos, meu marido ou eu ficamos doentes. Hoje tenho um guarda-roupa e vou com serenidade a cerimônias de batismo e casamento, além das reuniões informativas. As várias colaborações financeiras que preciso fazer não são mais um pesadelo para mim. Não estou dizendo que sou rica, mas não me queixo muito. Graças a Deus!

Apresentador: Como você ouviu, Elisabeth está feliz, mesmo não sendo rica. Vamos relembrar este provérbio: “o dinheiro não traz felicidade”. Elisabeth é uma mulher trabalhadora. Ela ganha a vida com o suor do seu rosto.

Elisabeth: Eu consegui um pedaço de terra em um pântano recuperado dividido em lotes. Ele tem vinte metros de comprimento por dez metros de largura. Nessa terra, eu cultivo cebolas na estação seca e arroz no inverno. Isso me permite ganhar dinheiro e atender algumas necessidades. Graças à UDPA-B, consegui um pequeno empréstimo do banco de crédito e poupança da cooperativa. Com esse dinheiro, comprei sorgo que germino por alguns dias e depois vendo para as mulheres que fazem dolo (nota do editor: cerveja de milheto). Isso me dá algum lucro. Então, afinal, consigo ganhar um pouco de dinheiro quando a estação e os preços estão bons.

Apresentador: Vamos voltar a falar com Prosper, que só tem coisas boas a dizer sobre o seu grupo e sobre a UDPA-B. Prosper recebeu treinamento como produtor de feijão-fradinho. Ele credita seu sucesso à UDPA-B e ao seu grupo.

Prosper: A UDPA-B organizou treinamentos para os membros dos diferentes grupos. Eu, por exemplo, aprendi a produzir feijão-fradinho. Outros produtores tornaram-se facilitadores que promovem sessões de informação e consciência sobre violência contra as mulheres, infecções sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS-SIDA e a luta contra a mutilação genital feminina. Quanto a mim, eu trabalho para promover a consciência sobre a adoção de sementes aprimoradas. Estamos muito expostos à imprevisibilidade climática por aqui. Não temos mais certeza sobre o ciclo das estações. Esta é uma grande razão pela qual a UDPA-B ajuda os seus membros a conseguir insumos com taxas razoáveis.

Apresentador: Além de melhorar a situação sócio-econômica dos seus membros, a UDPA-B também os ajuda a serem mais responsáveis nas suas vidas. Prosper tem orgulho da audiência que detém hoje na sua região. Ele vai nos contar mais a respeito.

Prosper: Graças à UDPA-B, tenho audiência quando venho falar sobre feijão-fradinho. As pessoas me ouvem quando falo e sinto que tenho responsabilidade. Alguns membros representam a UDPA-B durante reuniões na capital. Alguns deles fizeram muitos amigos e ficaram famosos ao promoverem as sessões. Outros têm a impressão de que criaram asas e estão tentando ganhar as próximas eleições municipais. Tudo isso foi possível graças aos grupos, com o apoio e a direção da UDPA-B. Eu não sei o que teria acontecido conosco sem essas organizações. Eu peço a todos que nos deem as mãos para podermos seguir juntos em nossa batalha por uma vida melhor.

Apresentador: Nós ouvimos Elisabeth e Prosper, membros de dois grupos que são parte da União Departamental dos Produtores Agrícolas de Boudry, ou UDPA-B. Acreditamos, com base nos seus testemunhos, que encontramos pessoas muito satisfeitas. Desejamos muita coragem às organizações que trabalham incansavelmente para a promoção social, política e econômica das pessoas do campo.


Créditos:

Contribuição de Adama Gondougo Zongo, jornalista da JADE Productions, Burkina Faso, parceiro estratégico da Rádio Rural Internacional.

Revisão: John Julian, Diretor, Política e Comunicações Internacionais, Associação Canadense de Cooperativas.

Agradecimentos:

  • Djibril Sedego, apresentador da Rádio Unidade de Boudry.
  • Representantes dos grupos de Yaïka e Boéna, membros da União.
  • Representantes da UDPA-B.

Fontes de informação:

Entrevistas com:

  • Simon Pierre Nana, secretário geral da União Departamental de Produtores Agrícolas de Boudry.
  • Elisabeth Kaboré, membro do grupo de mulheres de Boéna.
  • Prosper Congo, membro do grupo de produtores agrícolas de Yaïka.

As entrevistas foram realizadas nos dias dois e três de julho de 2011.


Informações adicionais:

Quel rôle pour les organisations paysannes du Faso? Un entretien avec Bassiaka Daoprésident de la Confédération paysanne du Faso (CPF)Sos Faim, n° 99, págs. 19-21, fevereiro/março de 2011. http://www.sosfaim.be/pdf/publications/defis_sud/99/complet.pdf.


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